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Mecanismos de recompensa: como o cérebro processa nossas conquistas?

Você já se perguntou por que nós fazemos as coisas que fazemos? Como aprendemos certas coisas, ou porque fazemos mais de uma atividade do que outra? Pois bem, a resposta está no mecanismo de recompensa, um grupo de estruturas cerebrais.

Existem dois fatores que podem influenciar as ações humanas: as necessidades, como água, alimento, sono, entre outros, e as recompensas. Qualquer coisa pode ser uma recompensa, desde que cause motivação, aprendizado ou sentimentos agradáveis.

Portanto, uma recompensa pode ser uma nota boa na escola, mas também pode ser um abraço de pessoas queridas, ou até mesmo um prato delicioso ao final de um longo dia de trabalho, por exemplo.

A recompensa nem sempre é externa: um sentimento agradável de ter completado uma tarefa específica ou a sensação de alívio por ter terminado um trabalho também são recompensas.

Esse mecanismo de recompensa é o responsável por grande parte da nossa aprendizagem, pois ele reforça os comportamentos que estão associados com bons resultados, e previne os comportamentos que estão associados a consequências desagradáveis.

Como funciona o mecanismo de recompensa?

Para compreender como o mecanismo de recompensa funciona, primeiro é preciso entender o papel da dopamina, um neurotransmissor frequentemente relacionado ao prazer (e, por isso, o mecanismo de recompensa também é chamado de circuito do prazer).

De certa forma, a dopamina pode ser definida como um dos principais neurotransmissores por trás da motivação. É ela que faz com que nós busquemos os estímulos necessários para a nossa sobrevivência, como alimento, sono, entre outros.

A dopamina trabalha junto com alguns opióides naturais que existem no organismo para proporcionar a sensação de prazer. Quando se trata do mecanismo de recompensa, a dopamina é o principal neurotransmissor nesse circuito.

Quando existe a perspectiva de uma recompensa por uma tarefa específica, os níveis de dopamina sobem. Após receber a recompensa, se ela foi melhor do que o esperado, na próxima vez que for preciso realizar a mesma tarefa, os níveis de dopamina ficam mais altos, fazendo com que a pessoa se sinta motivada a realizar a tarefa.

O contrário também é verdadeiro: quando a recompensa é pior do que o esperado, na próxima vez que for necessário fazer a tarefa, os níveis de dopamina diminuem, fazendo com que tenhamos menos motivação para realizá-la.

Já quando a recompensa é exatamente o que foi imaginado, o nível de dopamina não aumenta e nem diminui. Não aprendemos nada de novo em relação àquela tarefa e, portanto, continuamos realizando caso ela seja uma tarefa indispensável, mas não nos esforçamos mais do que o necessário para realizá-la.

A dopamina também ajuda na consolidação de memórias relacionadas a recompensas, melhorando as sinapses na parte do cérebro responsável pela memória e aprendizagem (o hipocampo).

Além disso, quando liberada nas áreas cerebrais que processam emoções e regiões responsáveis pelo planejamento e pela razão, a dopamina também ajuda a criar uma associação entre as recompensas e as emoções.

O mecanismo de recompensa pode ser prejudicado

Infelizmente, o mecanismo de recompensa não é um mecanismo impenetrável e pode acabar sofrendo prejuízos em algumas condições. Uma delas é o uso de drogas, os vícios e a compulsões.

Em geral, as drogas podem alterar o funcionamento desse mecanismo por conta não apenas das substâncias que podem causar vício, mas também porque o prazer obtido pelo uso da droga tende a ser muito grande em relação ao trabalho necessário para conseguir utilizá-la.

Além disso, algumas drogas podem alterar também os níveis de dopamina liberados em relação a outras recompensas que não seja a própria droga. Um estudo feito com usuários de maconha mostrou que a atividade no mecanismo de recompensa dessas pessoas é reduzida quando se trata de recompensas monetárias, por exemplo, indicando que existe a possibilidade da maconha alterar o funcionamento do mecanismo de recompensa, fazendo o mecanismo ter mais atividade diante da droga do que diante de outras possíveis recompensas.

O mesmo ocorre com outros vícios e compulsões. O cérebro associa um prazer muito alto à substância/atividade desempenhada, e por isso libera mais dopamina para que a pessoa se sinta mais e mais motivada para repetir o uso da substância ou a atividade compulsiva.

Além disso, o fato de que várias drogas podem causar tolerância, ou seja, a necessidade de usar doses maiores para conseguir os mesmos efeitos, é a receita pronta para diversos prejuízos não apenas na saúde física, como também no dia-a-dia, nas relações interpessoais, na carreira, nos estudos, entre outros.

As compulsões e vícios também trazem esses prejuízos e o mecanismo é muito semelhante. Apesar de não necessariamente haver substâncias externas envolvidas, elas também podem causar esse desequilíbrio no mecanismo de recompensa.

Ganhar uma aposta muito grande, por exemplo, é um exemplo de atividade que dá uma recompensa muito grande, o que aumenta os níveis de dopamina no cérebro da pessoa para que ela faça apostas mais vezes. Desta forma, a pessoa pode acabar desenvolvendo um verdadeiro vício em apostas, em jogos, ou em outras atividades semelhantes.

Recompensas a longo prazo

Sabendo sobre o funcionamento do mecanismo de recompensa, é possível compreender como o ser humano consegue focar em objetivos a longo prazo, que não trazem recompensas imediatas.

Em geral, sempre queremos as recompensas o mais rápido possível, e por isso muitas vezes é difícil manter-se focado em planos a longo prazo, como finalizar uma graduação ou guardar dinheiro para uma viagem ao exterior.

No entanto, apesar dessa preferência pelas recompensas imediatas, o próprio mecanismo de recompensa nos ajuda a manter o foco nas recompensas a longo prazo. Isso porque, à medida em que você chega mais perto da recompensa a longo prazo, maiores são os níveis de dopamina liberados no cérebro. Por conta disso, o prazer de uma recompensa a longo prazo tende a ser muito maior do que as recompensas a curto prazo, fazendo “valer a pena” a espera.

Para combater a falta de interesse e foco nos planos a longo prazo, é comum a criação de metas menores dentro de um projeto maior para que seja possível receber “mini-recompensas”. Por exemplo, se você está trabalhando em um projeto grande, separar este projeto em etapas com objetivos bem definidos pode ajudar, porque a cada objetivo alcançado, o cérebro será recompensado com a sensação de ter terminado mais uma etapa, fazendo com que você consiga manter o foco por mais tempo no objetivo a longo prazo.

Quando se trata de tomar decisões, o mecanismo de recompensa influencia significativamente. O cérebro tenta balancear os riscos com as possibilidades de recompensa, para enfim poder chegar a uma decisão.

Pesquisadores ainda estão investigando exatamente como esse balanceamento é feito, mas atualmente é sabido que é provável que estados emocionais afetem este processo, bem como a idade pode influenciar.

Sabe-se que adolescentes têm cérebros menos desenvolvidos e, portanto, podem se envolver em comportamentos mais arriscados em busca de recompensas. Da mesma maneira, adultos mais velhos também podem se arriscar mais por conta do declínio natural de algumas funções cerebrais devido à idade.

O mecanismo de recompensa está por trás da grande maioria dos nossos comportamentos, mas algumas coisas podem prejudicá-lo. Se você sente que está com problemas como compulsões e vícios, não hesite em entrar em contato com um profissional da saúde mental!

Referências

https://www.brainfacts.org/thinking-sensing-and-behaving/learning-and-memory/2018/motivation-why-you-do-the-things-you-do-082818

https://www.neuroscientificallychallenged.com/blog/know-your-brain-reward-system

https://rewardfoundation.org/brain-basics/reward-system/

https://labblog.uofmhealth.org/lab-report/over-time-marijuana-use-dampens-brains-response-to-reward

https://www.dana.org/article/how-addiction-hijacks-our-reward-system/

https://www.redorbit.com/news/science/1112915405/dopamine-role-brain-long-term-reward-system-080513/



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