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Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): O que é? Como funciona?

A Terapia Cognitivo-Comportamental é uma das psicoterapias mais eficazes para um grande variedade de transtornos mentais. Apesar de ser uma abordagem da psicologia relativamente recente, sendo desenvolvida por Aaron Beck nos anos 70, suas origens remontam a uma época bastante distante: a filosofia de Epiteto, um filósofo grego que viveu no século I d. C. Segundo ele, “O que perturba a mente dos homens não são os eventos em si, mas sim os seus julgamentos sobre os eventos”. Essa é a base do pensamento da terapia cognitivo-comportamental.

Usando esta base da filosofia estóica e misturando um pouco com uma outra grande corrente da psicologia, o comportamentalismo (ou behaviorismo), Beck conseguiu explorar ainda mais a influência dos nossos pensamentos e interpretações da realidade em nossos comportamentos no dia a dia, chegando a um sistema um tanto quanto complexo, porém muito eficaz no tratamento de diversos problemas psicológicos que podem surgir no dia a dia.

A TCC não é eficaz apenas para pessoas com transtornos mentais, podendo ser de grande benefício para qualquer pessoa passando por um problema emocional. Isso porque distorções e interpretações errôneas e prejudiciais da realidade acontecem com todas as pessoas o tempo inteiro, e a TCC consegue trabalhar para resolver tais distorções, independente de um diagnóstico.

Pressupostos básicos da Terapia Cognitivo-Comportamental

A terapia cognitiva-comportamental se fundamenta em 3 princípios básicos:

  1. A atividade cognitiva influencia o comportamento;
  2. A atividade cognitiva pode ser monitorada e alterada;
  3. O comportamento desejado pode ser influenciado mediante a mudança cognitiva.

Resumindo, isso quer dizer que, para a TCC, a maneira que pensamos e interpretamos as situações ao nosso redor influenciam no nosso comportamento e, se quisermos alterá-lo, isso é possível quando alteramos o nosso pensamento.

Embora pareça a velha frase do “pensar positivo”, isso não é bem realidade. A TCC preza por um pensamento realista, não necessariamente positivo. Uma interpretação mais realista das situações que um indivíduo passa é muito melhor do que uma interpretação otimista, que pode levar a frequentes frustrações.

Pensamentos automáticos

A mudança dos pensamentos não é um processo tão simples por conta de um fenômeno chamado pensamentos automáticos. Estes pensamentos são rápidos, avaliativos e surgem de forma automática diante das situações, por isso o nome. Eles não são produto de uma reflexão organizada acerca dos acontecimentos, mas sim uma interpretação rápida que, em algumas situações, pode levar a conclusões errôneas.

Frequentemente, não questionamos nossos pensamentos automáticos, ou nem mesmo percebemos que estão acontecendo. Em geral, apenas os aceitamos, também de forma automática, e os levamos como verdade. Contudo, estes pensamentos podem não serem realistas ou precisos.

Crenças nucleares e pressupostos adjacentes

Não é raro que um pensamento automático seja distorcido e disfuncional. Isso porque eles são influenciados por pressupostos adjacentes e crenças nucleares.

As crenças nucleares são crenças que um indivíduo desenvolve acerca de si mesmo, das outras pessoas e do mundo em geral. Por exemplo, uma pessoa pode acreditar que o mundo é um lugar perigoso de se viver, criando uma crença nuclear que é rígida e inflexível. Ou seja, as crenças nucleares não são facilmente mudadas e costumam ser bem limitadoras em alguns casos.

Essas crenças nucleares nem sempre são ruins, mas existem algumas que são disfuncionais e, por isso, são o foco da TCC.

Existem algumas categorias de crenças nucleares. São elas:

  • Crença de desamor: Acreditar que não é amado e nem é digno de amor;
  • Crença de desvalor: Acreditar que é incapaz, impotente etc.;
  • Crença de desamparo: Acreditar que não será amparado, não receberá apoio, está sozinho no mundo, etc.

Uma mesma pessoa pode ter esses três tipos de crenças nucleares, enquanto outras terão apenas um ou dois. Elas também podem estar ativas em alguns momentos da vida (em um episódio depressivo, por exemplo) e não em outros. Tudo vai depender das experiências da pessoa, pois as crenças nucleares são adquiridas conforme as vivências do indivíduo desde a infância.

Depois de formadas, essas crenças nucleares dão origem a pressupostos adjacentes (também chamados de crenças intermediárias), que são como um “conjunto de regras” que uma pessoa deve seguir ou frases condicionais que afetam seu comportamento. Alguns exemplos são:

  • “Se eu agradar a todos, serei amado” — Este seria um pressuposto adjacente de uma pessoa com uma crença nuclear de desamor, na qual ela se considera indigna de ser amada, e portanto precisa se esforçar para agradar os outros e conseguir ser amada;
  • “Se eu sofrer um acidente, ninguém estará lá para me ajudar” — Um pressuposto de uma pessoa com crença nuclear de desamparo, que tem medo de correr riscos e acabar desamparado.

Distorções cognitivas

As distorções cognitivas são como lentes que alteram nossa percepção da realidade. Elas influenciam os nossos pensamentos e frequentemente não percebemos. Alguns tipos de distorções cognitivas bem conhecidas e frequentes são:

  • Catastrofização: Pensar que o pior desfecho para a situação irá acontecer, sem levar em consideração as chances de outros desfechos. Ex. tirar uma nota ruim em uma prova e pensar que o ano letivo está perdido, pois certamente irá reprovar na matéria;
  • Polarização (pensamento tudo-ou-nada): Pensar em termos generalistas, “oito ou oitenta”. Ex. ao ocorrer um imprevisto, achar que tudo está perdido;
  • Abstração seletiva (filtro negativo): Focar apenas no negativo, ignorando os outros aspectos. Ex. ao receber um feedback do chefe que contém elogios e críticas, focar apenas nas críticas;
  • Leitura mental: Presumir o que as outras pessoas estão pensando ou sentindo, mesmo sem qualquer evidência. Ex. conversar com um amigo e assumir que ele está entediado com o papo;
  • Rotulação: Rotular a si mesmo ou aos outros de forma rígida. Ex. “eu sou imprestável”, “aquela mulher é má”;
  • Desqualificação do positivo: Experiências positivas são desvalorizadas porque são triviais. Ex. “eu fui bem na prova de inglês, mas todo mundo foi, então não conta”;
  • Personalização: Assumir a culpa de acontecimentos negativos, mesmo sem evidências de que seria sua culpa. Ex. “meu amigo está triste hoje, deve ser culpa minha”;
  • Hipergeneralização: Pegar um evento específico e transformar em um padrão universal. Ex. “eu sempre estrago tudo”, “tudo sempre dá errado” etc.

Vale lembrar que as distorções cognitivas podem acontecer em qualquer pessoa, e a presença de algumas distorções não indica um transtorno mental. O que acontece é que, frequentemente, pessoas com transtornos mentais têm mais distorções cognitivas, com mais frequência e em maior intensidade, do que pessoas que não possuem nenhum diagnóstico.

Atividade cognitiva não-consciente

É importante lembrar que as crenças nucleares e as crenças intermediárias geralmente se dão em um nível não-consciente, ou seja, a pessoa não tem consciência desta parte da sua atividade cognitiva, pois o que aparece na consciência são os pensamentos automáticos.

Para conseguir acessar essas crenças, é necessário investigar os pensamentos automáticos. Ao destrinchá-los e estabelecer um padrão é possível chegar nas crenças intermediárias, que por sua vez nos levam às crenças nucleares.

O modelo cognitivo

Para exemplificar como a atividade cognitiva impacta o comportamento, podemos dar uma olhada no modelo cognitivo:

Este esquema também pode ser representado de forma mais simples, conhecido como Modelo ABC:

A → B → C
No qual:

  • A: Evento ativador, ou seja, a situação pela qual a pessoa está passando;
  • B: As crenças (belief) da pessoa acerca do evento, ou seja, a maneira que a pessoa interpreta o que está acontecendo. Em outras palavras, são os pensamentos automáticos, que são pensamentos rápidos influenciados pelas crenças subjacentes que uma pessoa tem sobre si mesma, sobre os outros e sobre o mundo, e que frequentemente são disfuncionais. Ainda assim, estes pensamentos são aceitos pelo indivíduo sem que haja reflexão sobre eles;
  • C: Consequências, que incluem respostas comportamentais, emocionais e fisiológicas.

Para a Terapia Cognitiva-Comportamental, o B é a parte mais importante deste processo, pois é nela que é preciso trabalhar para conseguir uma consequência (C) adaptativa. Isso quer dizer não necessariamente uma consequência positiva, mas sim uma consequência adequada para a situação.

Este modelo não surgiu com Beck, no entanto. Quem pensou neste modelo em primeiro lugar foi Albert Ellis, o criador da Terapia Racional Emotiva Comportamental (TREC).

Como é o atendimento na TCC?

A terapia cognitivo-comportamental é uma terapia breve e diretiva, o que significa geralmente tem um número de sessões limitadas e o terapeuta guia, junto com o paciente, o que será trabalhado em cada sessão.

No início da terapia, o terapeuta irá fazer uma conceitualização cognitiva, usada para identificar os pensamentos automáticos disfuncionais, as crenças intermediárias e as crenças nucleares do paciente. Para isso, ele explora um pouco da história de vida do paciente, bem como a queixa trazida.

Após a conceitualização cognitiva, o terapeuta irá junto com o paciente elaborar objetivos da terapia e uma espécie de agenda dos assuntos a serem abordados ao longo das sessões. É importante notar que o terapeuta não faz tudo sozinho, na realidade ele pede que o paciente seja bem participativo no processo terapêutico. Isso se chama empirismo colaborativo.

Durante as sessões, é comum que o terapeuta mande algumas “lições de casa” para o paciente, como anotar aquilo que pensa e sente durante o dia em situações aversivas, com o intuito de fazer o paciente aprender a identificar os pensamentos disfuncionais quando eles aparecem e botar em prática o que foi desenvolvido durante as sessões..

São ensinadas técnicas de avaliação crítica dos pensamentos disfuncionais, pois assim o paciente começa a questionar e refletir sobre os pensamentos automáticos, buscando evidências de sua veracidade — que, no caso de pensamentos disfuncionais, não existem, portanto provando o pensamento como falso.

Um dos objetivos da terapia cognitivo-comportamental é a psicoeducação, ou seja, ensinar ao paciente o funcionamento da atividade cognitiva para que ele mesmo comece a perceber os padrões disfuncionais à medida em que eles vão surgindo.


A terapia cognitivo-comportamental é uma das maiores abordagens da psicologia atualmente devido ao grande respaldo científico por trás, sendo eficaz para diversos tipos de transtornos e até mesmo para pessoas sem diagnóstico mas que estão passando por momentos delicados em suas vidas. Se você acredita estar passando por algum problema e sente precisar de ajuda, não hesite em contatar um profissional da saúde mental!

Referências

Bernard, R. (2011). Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a psiquiatria. 2ª ed. Porto Alegre: Artmed.
Knapp, P. (2004). Terapia Cognitivo-Comportamental na prática psiquiátrica. Porto Alegre: Artmed.



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