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Mania versus hipomania: qual a diferença?

A definição clássica do transtorno bipolar é a alternância entre episódios de depressão, mania e humor normal (eutimia). Embora essa definição pareça simples, às vezes, diagnosticar corretamente um estado de mania não é tão simples, especialmente se a própria pessoa não tem muita noção sobre o transtorno e seus sintomas.

Assim como os sintomas da depressão não são uniformes e se apresentam de formas diversas nas pessoas, os sintomas da mania obedecem à mesma regra, ou seja, pessoas diferentes podem apresentar-se maníacas de formas muito distintas.

Para começar a discussão, é importante ter em mente que existem dois tipos de mania: a mania plena e a hipomania. E, mesmo na mania plena, sua expressão pode variar consideravelmente de acordo com a pessoa, o período em que está vivendo, entre outros.

Qual a diferença entre hipomania e mania?

A mania é um episódio de humor no qual este se encontra extremamente elevado, ou seja, a pessoa se sente energizada, apresenta uma maior agitação e inquietação, não precisa dormir por muito tempo, pode apresentar “mania de grandeza”, impulsividade, agressividade e, em casos mais graves, sintomas psicóticos como delírios e alucinações.

Contudo, um humor elevado não necessariamente significa estar feliz. A pessoa pode ser acometida por momentos de intensa euforia, o que é diferente do sentimento de estar feliz e satisfeito com a vida que está levando.

Além disso, o humor elevado pode se manifestar não apenas como euforia, mas também como irritável, levando a uma agressividade exagerada – também chamada de mania com características mistas.

Já a hipomania é mais branda que a mania, no sentido de não ser tão disfuncional. Ou seja, a pessoa pode ter mais energia para as coisas, pode ficar um pouco mais impaciente, porém a pessoa também consegue manter uma rotina funcional, o que muitas vezes uma pessoa em mania não é capaz de fazer. Além disso, na hipomania, não costumam existir sintomas psicóticos.

Vale lembrar que a presença de sintomas psicóticos não é obrigatória para o diagnóstico de um episódio de mania plena. Estes sintomas ocorrem em casos mais graves, porém estar em mania plena não necessariamente significa ter sintomas psicóticos e, portanto, o diagnóstico de mania não pode ser descartado apenas pela ausência de sintomas psicóticos.

Para tentar explicar um pouco melhor como uma mania e uma hipomania podem se manifestar, aqui vão alguns exemplos de comportamentos que podem ocorrer nos dois casos:

Alguns comportamentos que ocorrem na hipomania

Por se tratar de uma mania mais “leve”, a hipomania permite que a pessoa ainda tenha uma rotina funcional. Dentre os comportamentos que podem aparecer em hipomania estão:

  • Falar exageradamente (tagarelice);
  • Fluxo de pensamento acelerado;
  • Maior sociabilidade;
  • Maior iniciativa;
  • Mais energia e disposição para as atividades diárias;
  • Impaciência;
  • Distratibilidade;
  • Aumento da libido;
  • Maior impulsividade na hora de gastar ou se envolver em atividades de risco, porém ainda há mais autocontrole do que na mania plena.

A hipomania pode passar despercebida em grande parte das vezes, sendo frequentemente confundida com uma melhora normal no humor. Algumas pessoas acreditam que tais sintomas são partes normais de sua personalidade, quando na realidade não o são.

É válido lembrar que os sintomas da hipomania também duram menos tempo do que os episódios maníacos, podendo durar entre 4 dias e 1 semana.

Estes episódios podem ser prejudiciais pois causa danos ao juízo, expondo a pessoa a comportamentos de risco, como gastar mais do que deveria, usar substâncias, sexo sem proteção, entre outros. Além disso, o juízo prejudicado pode acabar trazendo problemas nas relações interpessoais.

No entanto, os prejuízos causados pela hipomania ainda não são grandes o suficiente para que a pessoa apresente algum perigo real à sua própria vida ou à vida de outros e, portanto, episódios de hipomania não necessitam internação.

Alguns comportamentos que ocorrem na mania

A mania plena tem todos os sintomas citados na hipomania, porém estes são ainda mais intensos. O fluxo de pensamento fica tão acelerado que ocorre uma fuga de ideias frequente, o que pode levar a um discurso incoerente. É possível perceber isso pois a pessoa fala de 2 ou 3 assuntos em poucas frases.

Há uma euforia intensa, ausente na hipomania, e uma autoestima inflada acompanhada de mania de grandeza. Essa mania de grandeza pode fazer com que a pessoa inicie processos grandes como escrever um livro, pintar coleções de quadros, buscar patrocínio para uma ideia de negócios, mesmo que a pessoa não tenha experiência alguma na área (e nem saiba que suas ideias são potencialmente impraticáveis) ou qualquer tipo de talento relacionado. Pode-se achar boa em esportes que nunca jogou antes, ou que não treinou o suficiente, ou acreditar que a sorte está ao seu lado em situações arriscadas, como apostas. Um aumento muito grande na libido pode levar a pessoa a sexo de risco.

O comportamento de risco se torna ainda mais preocupante, pois a pessoa tende a fazer investimentos realmente muito altos, como comprar uma casa ou um carro mesmo não tendo o dinheiro para isso. A pessoa pode ter comportamentos antissociais e acabar tendo problemas com a justiça.

Os sintomas da mania duram ao menos 7 dias, e precisam estar presentes na maior parte do tempo durante estes dias para poder diagnosticar um episódio maníaco. Além disso, esses sintomas são intensos e prejudicam significativamente as relações interpessoais.

Em alguns casos, os sintomas podem ser tão intensos que podem necessitar internação em uma clínica psiquiátrica. Contudo, isso ocorre mais quando a pessoa não está em tratamento. Isso quer dizer que tratar o transtorno bipolar adequadamente diminui significativamente as chances de necessidade de internação.

Um episódio maníaco pode causar prejuízos significativos na vida de uma pessoa, como por exemplo perda de emprego, problemas financeiros, problemas com a justiça, comportamentos autodestrutivos, entre outros.

É importante ter em mente que algumas drogas de abuso podem causar sintomas muito parecidos com a mania, e isso deve ser levado em consideração antes de diagnosticar um episódio maníaco.

O episódio maníaco também pode surgir como resposta ao tratamento antidepressivo quando uma pessoa vai ao psiquiatra com queixa de depressão. Nestes casos, quando o episódio persiste além dos efeitos do medicamento, é possível ter um diagnóstico de transtorno bipolar.

Os episódios de mania e hipomania são a principal característica do transtorno bipolar, mas às vezes os sintomas podem passar despercebidos ou serem encarados como parte da personalidade da pessoa.

Portanto, uma avaliação cuidadosa feita por um psiquiatra é importante para um diagnóstico adequado. Se você sofre com oscilações entre períodos de depressão e de bem-estar, é possível que você esteja lidando com o transtorno bipolar, mas não percebe. Não hesite em contatar um profissional da saúde mental para receber o diagnóstico e tratamento adequados!

Referências

Associação Americana de Psiquiatria (2014). DSM-5 – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais, 5ª. edição. Porto Alegre: Artmed.



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