A terceira idade pode ser um momento muito legal da vida de alguém, mas às vezes surgem alguns problemas que podem prejudicar o aproveitamento dessa época da vida.
Também chamada de “depressão geriátrica”, a depressão em idosos tem se tornado um assunto de maior visibilidade ultimamente. À medida que a depressão como um todo vem sendo desmistificada, as pessoas começam a perceber que, apesar de ser comum, a depressão não é uma parte normal do envelhecimento.
Embora a idade traga consigo alguns problemas, como doenças crônicas, perda de entes queridos, mudanças na rotina como aposentadoria, entre outros eventos significativos, grande parte das pessoas na terceira idade consegue processar emocionalmente estes acontecimentos e segue em frente, enquanto uma outra parte acaba por desenvolver um quadro depressivo que pode precisar de tratamento.
A depressão em idosos é preocupante não apenas pelo transtorno em si, mas também porque aumenta as chances de apresentar doenças cardíacas, bem como de ir ao óbito após um ataque cardíaco ou por outras doenças.
Causas
As causas da depressão em qualquer idade são desconhecidas, mas há estudos que mostram que existem fatores de risco para o desenvolvimento do transtorno. No contexto da terceira idade, tais fatores são:
- Ser mulher;
- Histórico familiar de transtorno depressivo;
- Histórico anterior de depressão;
- Estar solteiro(a), não casado(a), divorciado(a) ou viúvo(a);
- Falta de uma rede de suporte (como amigos e familiares);
- Solidão;
- Presença de doenças crônicas, dores severas ou diagnósticos terminais;
- Uso de medicamentos que podem provocar interações medicamentosas;
- Autoimagem corporal danificada por procedimentos médicos (cirurgias etc.);
- Medo da morte.
Pesquisadores descobriram, por meio de exames de imagem, que pessoas que desenvolvem depressão pela primeira vez na terceira idade frequentemente têm algumas áreas cerebrais que não recebem um fluxo sanguíneo adequado, que pode ter relação com uma hipertensão crônica.
É possível que as alterações nessas áreas possam aumentar as chances de desenvolver um episódio depressivo. No entanto, essas são apenas especulações, pois as pesquisas ainda não trouxeram resultados conclusivos.
Sintomas diferenciados
Pode ser que os sintomas da depressão em idosos sejam diferentes dos sintomas que aparecem em outras idades. Frequentemente, a depressão pode se manifestar na forma de sintomas físicos, como dores no corpo.
Muitas vezes, as dores no corpo sentidas por idosos que não tem nenhuma outra explicação são, na realidade, sintomas de uma depressão não diagnosticada e/ou não tratada.
Muitas vezes, os sintomas são confundidos com sinais normais do envelhecimento, como um declínio das funções cognitivas, menos energia para fazer as atividades no dia-a-dia, entre outros. Contudo, a depressão geriátrica tende a piorar esses sintomas normais do envelhecimento, então é importante ficar bem atento à intensidade desses sintomas.
Grande parte dos idosos que desenvolvem depressão relatam que nem mesmo sentem tristeza, que é um dos sentimentos mais frequentemente associados à depressão. No entanto, eles sentem outros sintomas relacionados a um humor rebaixado, como falta de motivação, falta de energia, entre outros.
Risco de suicídio aumentado
Um dos maiores perigos da depressão é o risco de suicídio. Quando se trata da população na terceira idade, esse risco é muito maior. A taxa de suicídio em pessoas entre 80 e 84 anos de idade chega a ser o dobro do que no resto da população.
Insônia
Padrões de sono alterados são um dos principais sintomas da depressão. Durante a terceira idade, a necessidade de sono é reduzida. Por isso, a insônia relacionada à depressão pode acabar sendo confundida com um sintoma normal da idade, porém não necessariamente é o caso.
Ir ao médico por causa da insônia também é um procedimento comum nesta idade, e frequentemente os médicos receitam medicamentos sedativos como benzodiazepínicos.
Contudo, esse tipo de medicamento pode trazer efeitos colaterais preocupantes na terceira idade, como prejuízos no estado de alerta e sonolência, que podem levar a quedas — o que é preocupante na terceira idade por causa da fragilidade dos ossos.
Na dúvida, procurar um profissional da saúde mental para uma avaliação adequada dos sintomas é recomendado.
Tratamento
O tratamento para depressão geriátrica costuma ser parecido com o tratamento da depressão em qualquer idade, com o uso de medicamentos antidepressivos e psicoterapia.
Contudo, os medicamentos podem não ser tão eficazes em pacientes idosos quanto costumam ser em pacientes mais novos. Além disso, eles também podem demorar mais tempo para fazer efeito, o que pode ser um desafio no tratamento.
O maior problema do uso de medicamentos para tratar a depressão em idosos está no fato de que, muitas vezes, os medicamentos psiquiátricos têm efeitos colaterais que podem ser especialmente perigosos nessa faixa etária.
Dentre estes efeitos colaterais estão o risco de sedação, diminuição do estado de alerta, sonolência, tontura, entre outros. Esses efeitos colaterais podem acabar causando quedas, que podem levar a fraturas e outros ferimentos devido à fragilidade do organismo idoso.
Por conta disso, às vezes, podem haver contraindicações ao tratamento com antidepressivos em idosos. Isso não quer dizer que não há alternativas.
Em alguns casos, a eletroconvulsoterapia pode ser utilizada para o tratamento da depressão geriátrica. Esse tipo de tratamento tem uma má reputação por conta de práticas nada éticas que foram usadas no passado, mas atualmente ele é feito de forma humanizada, com o paciente amestesiado.
Durante esta sedação, são utilizadas correntes elétricas que provocam convulsões controladas no cérebro, ajustando o fluxo de neurotransmissores e, consequentemente, melhorando os sintomas depressivos.
Uma outra opção é a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT), na qual utiliza-se um campo magnético para estimular determinadas áreas do cérebro e equilibrar esse fluxo de neurotransmissores. A EMT pode ser menos efetiva, por menor precisão, devido ao natural “encolhimento” do cérebro nesta população.
Em casos que não respondem adequadamente à medicação, o tratamento pode ser feito com uma combinação dessas práticas, pois as duas últimas também podem auxiliar os medicamentos a fazerem efeito.
Por fim, levando em consideração as possíveis contraindicações de cada tipo de tratamento, cada caso deve ser avaliado individualmente, pensando nas possíveis vantagens e desvantagens do tratamento proposto.
A terceira idade pode ser um período de muitas alegrias ou angústias. É importante estar atento aos próprios sentimentos para manter a saúde mental em dia. Se você se identificou com os sintomas aqui citados, não hesite em consultar um profissional da saúde mental.
Referências
https://www.webmd.com/depression/guide/depression-elderly
https://www.nia.nih.gov/health/depression-and-older-adults
https://www.healthline.com/health/depression/elderly
https://www.health.harvard.edu/newsletter_article/Recognizing_and_treating_depression_in_the_elderly
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